30 anos depois, a extraordinária Antologia que marcou a poética maranhense no século XX
“A Poesia Maranhense no Século XX”, antologia organizada, introduzida e notificada por Francisco Assis Almeida Brasil (Assis Brasil).
Por: Mhario Lincoln
Fonte: Mhario Lincoln/Assis Brasil
Assis Brasil tem mais de 100 obras publicadas
O professor, escritor e poeta José Neres, em recente publicação memorável neste Facetubes, resgatou um livro infanto-juvenil do piauiense Assis Brasil – O Cantor Prisioneira – uma obra prima, sem dúvida, que Neres resumiu, assim: “(…) o que aparentemente pode ser uma história simples, pode também ser lido como denúncia sobre diversas fraturas pessoais e sociais que podem passar despercebidas em uma primeira leitura”. (Para ler, siga abaixo, **)
Tal publicação veio à calhar porque Assis Brasil tem uma outra obra magnífica que influenciou diretamente na poética maranhense, que, neste 2024, completa exatamente 30 anos: a Antologia “A Poesia Maranhense no Século XX”. Sobre essa publicação, em meu texto abaixo, destaco o excerto onde Assis fala, com propriedade, da nova geração de poetas e sobre os movimentos que alavancaram a nova ordem lírica no Maranhão, com repercussão mágica, também, no Brasil.
A Poesia que une os Homens é a mesma que afasta os Hipócritas
O ano era 1994: “(…) Salões de poesia, festivais, feiras, em destaque o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, o Centro de Arte Japiaçu, o Teatro Arthur Azevedo, o Centro Cultural Domingos Vieira Filho. São importantes as atividades do Plano de Ações Integradas de Cultura, da Secretaria de Estado do Maranhão, com Ação Cultural nos Bairros e Interior da Ilha de São Luis, e mais a Domingueira Cultural, as feiras artesanais e folclóricas. Depois da Hora de Guarnicê, vão surgir outros grupos poéticos, como a Academia dos Párias, que edita a revista Uns & Outros, e o Poeme-se, que deu origem a um sebo e locadora de livros…”. Infelizmente tais afirmações contidas na antologia “A Poesia Maranhense do Século XX”, mostram uma visão lírica dos anos 90, na cidade de São Luís, há muito já fantasmagórica. Em tempo: refiro-me, apenas, à questão institucional de mobilidade e incentivo artístico e literário ludovicense. (Mhario LIncoln).
*Mhario LIncoln
Um dos trabalhos de muita repercussão e que até hoje é referência no cenário literário brasileiro é a Antologia “A Poesia Maranhense no Século XX”, organizada pelo inesquecível Assis Brasil e que neste 2024 completa 30 anos ainda gerando informações fidedígnas do antes e depois lírico, do Maranhão Poético.
Esse trabalho gigante é datado de 1994 e nele, se nota claramente a punjância da poética gerada por uma juventude ascendente, como Cunha Santos Filho, Raimundo Fontenele, Luis Augusto Cassas, Francisco Tribuzi (APB), Alex Brasil (APB), Rossini Corrêa, Roberto Kenard, Luís Inácio Araújo, Ribamar Feitosa, Laura Amélia Damous, Alberico Carneiro, claro e evidente, sem esquecer os grandes nomes desde Sousândrade até Carlos Cunha e José Maria Nascimento.
São, ao todo, 66 dos mais brilhantes nomes da poesia do Estado, até a época da publicação. O livro é primoroso com quase 380 páginas,impressão e distribuição fruto de uma parceria SIOGE/IMAGO se destaca porque reúne poetas incríveis e incluiu, também, alguns nomes desconhecidos da grande mídia, preenchendo lacunas e reparando injustiças na literatura brasileira, como um todo.
Na orelha, já se descobre a grande dimensão da obra, por ser, “A POESIA NECESSÁRIA”, (…) embora a intenção primordial do lançamento desta antologia ‘A Poesia Maranhense no Século XX”, não seja a de inaugurar uma coleção, o simples fato desta edição e a aceitação comercial de que “a poesia se vende”, a obra, “abriria a perspectiva para tal, dependendo de editores e entidades públicas que ainda têm uma salutar viseira cultural (…)”.
Segue: “(…) A feitura desta antologia deu ao escritor piauiense Assis Brasil, como ele mesmo declara AB é um veterano estudioso da literatura brasileira, a oportunidade de entrar em contato com o melhor da poesia nacional, este elenco de poetas maranhenses, muitos dos quais escondidos ou esquecidos no “feudo” cultural da província. Com poucos poetas de renome nacional, como Nauro Machado, Bandeira Tribuzi, Ferreira Gullar, José Chagas, Maranhão Sobrinho, Oswaldino Marques, e com os que ficaram à margem, como Frutuoso Ferreira, Catulo da Paixão Cearense, Humberto de Campos e Corrêa da Silva, esta antologia vem preencher lacunas e reparar injustiças, situando a poesia maranhense no plano mais alto da literatura brasileira (…)”.
Casou-me muita felicidade, inclusive, a atenção que Assis Brasil deu, nas notas introdutórias, a uma geração poética maranhense que já havia explodido nas décadas de 80 e 70, inclusive gerando vários movimentos literários importantes para a história nacional. Além disso, dedicou um capítulo inteiro ao assunto que intitulou: “A Geração de Luis Augusto Cassas“.
Abaixo, ipsis litteris:
“O bastão de revezamento da maratona poética da terra de Goncalves Dias continua a ser passado de geração a geração, de década a década. Como o tem o seu tempo historico de 25 anos de duração, os poetas que esteresse e imparuparam nas décad de 70/80 vão abrir um novo leque de interesse e importancia na poesia das defense com os nomes de jorge Nascimento (1931), Arlete Nogueira da Cruz (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Wanda Cristina (1959), Cunha San Crithe (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954). Adailton Medeiros (1938), longe do Maranhão participará do movimento de vanguarda Praxis, do eixo Rio São Paulo, idealizado e lançado por Mário Chamie. Todos esses poetas estrearam na década de 70 com livros de poesia”.
Segue: “Ainda na década de 70, e sem terem publicado livros, os poetas mais novos do Maranhão, à época, estão “intentando um movimento a que chamaram de Antroponautica”, segundo Jomar Moraes, estreando na Antologia do Movimento Antroponáutico (1972), o último vocábulo tirado de um poema de Bandeira Tribuzi, os jovens poetas Luis Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1943), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952), este talvez o único sonetista do grupo”.
Ainda: “Essa Antologia iria se completar, em 1975, com Hora de Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), nova reunião de poetas jovens, aparecendo alguns da coletânea anterior, como Luis Augusto Cassas, que só estreará na década seguinte (1981), e mais Viriato Gaspar, que também terá a sua estréia em livro só em 1984. Aparecem poetas que já haviam publicado livros, como Raimundo Fontenele e Cunha Santos Filho. Os novos que surgem nessa Antologia são Rossini Corrêa (1955) e Valdelino Cécio (1952), o primeiro estreando com livro de poesia já nos meados da década de 80″.
Assim informa: “Luis Augusto Cassas estréia em 1981 com ‘República dos Becos’ e será ele quem projetará a sua geração e a poesia nova do Maranhão em dimensão nacional, tendo a sua obra, com mais livros publicados, recebido o merecido beneplácito da critica brasileira. Seus pares que continuam na mesma linha de interesse, e não necessariamente estreantes em a ‘Hora de Guarnicê’, são Roberto Kenard (1958) e Laura Amélia Damous (1945). Os poetas mais novos, na reiterada parafrase do bastão olímpico, reencetam carreira, procurando por um lugar ao sol, ora fazendo concessões (a tradição umbilical no Maranhão é muito forte) a um neoromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno e pós-moderno, como é o caso de Alex Brasil (1954). Ivan Sarney Costa (1946), Luís Moraes (1948). Cesar William (1967), Moranno Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968), este com apenas 26 anos de idade. Ele fecha esta Antologia de ‘A Poesia Maranhense no Século XX’. (…)”.
Aprendi bastante lendo essa Antologia. Uma obra-prima.
Em tempo: Aqui, abro um parentese para destacar a frondosa vida literária maranhense à época (1994) em que foi publicada essa obra e os inúmeros pontos de apoio que tinha a literatura no Estado, com administração direta de órgãos oficiais – e que hoje, em 2024 – lamentavelmente ou foram extintos ou estão simplesmente abandonados, jogados à própria sorte.
Continuemos a descrever o excerto “A Geração de Luis Augusto Cassas”: Diz Brasil: “(…) É preciso salientar que, embora as epígrafes meio desalentadoras da abertura desta Introdução, é bom reconhecer a presença e o trabalho de órgãos culturais do Maranhão, que mantém a chama acesa da sua tradição poética e de sua alcançada modernidade, como é o caso do SIOGE (Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado). Essa entidade, através de seu Conselho Editorial, secretariado por Alberico Carneiro, edita livros de poetas maranhenses veteranos e novos, além de publicar a revista literária Vagalume, ja premiada pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro e pela de Críticos de Arte (1993)”.
E mais: “Salões de poesia, festivais, feiras, em destaque o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, o Centro de Arte Japiaçu, o Teatro Arthur Azevedo, o Centro Cultural Domingos Vieira Filho. São importantes as atividades do Plano de Ações Integradas de Cultura, da Secretaria de Estado do Maranhão, com Ação Cultural nos Bairros e Interior da Ilha de São Luis, e mais a Domingueira Cultural, as feiras artesanais e folclóricas. Depois da Hora de Guarnicê, vão surgir outros grupos poéticos, como a Academia dos Párias, que edita a revista Uns & Outros, e o Poeme-se, que deu origem a um sebo e locadora de livros, em destaque os membros José de Ribamar e Paulo Melo Souza. O grupo tem publicado poemas até em camisetas e promovido recitais de poesia e conferências”.
E finaliza, Assis Brasil: “Por tudo isso, neste final de século, o maranhense saudosista da ‘Atenas Brasileira’ não tem por que se queixar, nem seus poetas mais jovens, automarginalizados do sistema, pois o Maranhão, hoje, é ainda um dos poucos Estados brasileiros que dão importância à cultura, à literatura e à sua poesia em particular”. (Assis Brasil).
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*Mhario Lincoln é jornalista investigativo, poeta, advogado, escritor e presidente da Academia Poética Brasileira.
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QUEM É:
Francisco de Assis Almeida Brasil, mais conhecido como Assis Brasil (Parnaíba, 1929 – Teresina, 28 de novembro de 2021) foi um escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras. Romancista, cronista, ensaísta, escritor piauiense e jornalista; atuou também como crítico literário, intensamente, na imprensa brasileira, especialmente no Jornal do Brasil, Diário de Notícias, Correio da Manhã e O Globo, assim como nas revistas O Cruzeiro, Enciclopédia Bloch e Revista do Livro. Tem mais de cem obras publicadas, entre elas Beira Rio Beira Vida, 1965; A Filha do Meio Quilo, 1966; O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão (Tetralogia Piauiense); Os que Bebem como os Cães (Ciclo do Terror); Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos, Jovita e Tiradentes (romances históricos). Morreu em 28 de novembro de 2021, aos 92 anos de idade, em Teresina. (Wikipédia).
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(**) Matéria do professor José Neres: https://www.facetubes.com.br/noticia/4919/escritor-pesquisador-literario-e-poeta-jose-neres-escreve-sobre-qo-cantor-prisioneiroq-de-assis-brasil