LITERATURA

O MENINO ACORDOU COM UMA SAUDADE ENORME DE SUA MAMÃE!  

O MENINO ACORDOU COM UMA SAUDADE ENORME DE SUA MAMÃE!  
Publicado em 19/05/2024 às 10:36

O menino, que há muito dormia, acordou pela primeira vez, no dia dedicado às mães, sem o privilégio de poder beijá-la, ouvir sua voz e sentir o seu inesquecível cheiro e o calor do seu indescritível abraço!

Mamãe, hoje, acordei mais cedo, mas continuei envolto nos lençóis que me protegiam do frescor da central de ar condicionado, e, sinceramente, repleto de um vazio dentro de minha alma, como nunca sentira em minha vida. Fiquei receoso de, inclusive, abrir meus olhos, para não me deparar com a dura realidade de sua ausência física, há, aproximadamente 9 meses, e, assim, não ter o prazer imensurável, de ir ao teu encontro no final da tarde, após, a Santa Missa, em homenagem às mães brasileiras e do mundo inteiro. Notadamente, às mães na Faixa de Gaza, onde, o genocídio cometido pela guerra atual, iniciada há meses, permanece impune, as mães ucranianas, sem nos esquecermos das mães do nosso querido Estado Rio Grande do Sul.

Durante todos esses meses, minha querida mãe, nunca mais fui capaz de visitar a casa em que você, juntamente, com outros irmãos e nosso pai, Antônio Fernandes Lima, moraram, durante décadas. Provavelmente, não deverei visitá-la mais, para não reavivar a triste dor da separação entre nós.

Sempre me imaginei incapaz de elaborar os indesejáveis lutos, de nossa vida quotidiana, especialmente, em se tratando de entes queridos. Todavia, a perda de meus pais foi sempre por mim imaginada, por ser uma realidade inexorável para todos nós do Planeta Terra. Confesso, porém, a você minha querida mamãe, eu nunca me preparei, de fato, para viver sob a triste realidade de sua ausência. Não duvido, nem quero duvidar, da existência e do Amor do Nosso Bom Deus. Contudo, no meu raciocínio humano, jamais me passou pela cabeça algum assassinato cometido pelo Nosso Deus! 

Tenho muitas dificuldades de aceitar que certas atrocidades, em nível pessoal, coletivo, endêmico, epidêmico ou pandêmico, a exemplo de qualquer tipo de guerra, ou catástrofes ambientais sejam orquestradas sob o consentimento de Nosso Pai do Céu. Sobre isso, ainda, no ginásio, discordava do termo – guerra santa!

Diferentemente, não tenho quaisquer dúvidas, quanto à participação de Deus, quanto aquela saudade que me corroía por dentro, quando, à distância, estudava, e, nas datas do seu aniversário e no dia das mães, estive sempre ausente. Lembro-me, ainda em Grajaú, minha querida anfitriã e segunda mãe afetivamente – Ana Maria Fontenelle Viana determinando-me, que fosse à agência do Telégrafo, para mandar um telegrama para você, minha querida mãe – Orfisa Dias Araujo Lima! Enquanto isso, participava das festividades do Ginásio Gomes de Souza, Convento das Irmãs Capuchinhas, o qual se tornaria depois a nova Sede do Ginásio de Grajaú, transformando-se de Gomes de S Antoniano.

No elenco do Ginásio no Dia das mães, havia algumas ginasianas que sempre arrancavam lágrimas da plateia, a exemplo de uma adolescente – Iacy, da família Duailibe, que recitava divinamente bem, sob a maestria, naturalmente, da emoção guardada desde a infância, quando ficara órfã de mãe. Interessante, à época, quando os filhos e filhas órfãos de mãe, já costumavam emocionar a partir do anúncio de suas apresentações.  Graças a Deus, nunca tive dificuldades pra chorar por motivos de verdadeiras e belas emoções humanas. Mesmo que, a mim dissessem: “Homem não chora”! Nunca, graças a Deus disse não, aos meus sentimentos. 

Além das festividades programadas pelo Ginásio, havia as festividades organizadas pelo Convento das irmãs Capuchinhas, marcadas principalmente pela realização de um tradicional e inesquecível Drama. Entre as atrizes mirins do Convento, havia Maria do Socorro, cuja voz era muito bonita, e costumava cantar La Paloma. Durante o seu cantar, a emoção tomava de conta da plateia, até porque ela cantava com um teor lacônico indescritível. Acredito, hoje, ser aquele momento, em que ela conseguia expelir todos os seus traumas de menina órfã e, além do mais, vivendo de favores num convento, o que, sem dúvidas, não lhe teria sido fácil. A considerar pelo rigor do claustro, e, ainda, pelo luto corporal de toda e todo menino púbere. 

Coincidentemente, o mês de maio era festejado durante seus 31 dias, em homenagem aos festejos do Senhor do Bonfim. Durante o Dia das Mães, o campanário da Igreja Catedral ficava disponível aos filhos e filhas que quisessem homenagear suas mães, por meio de mensagens faladas, oferecimento de músicas relacionadas à data, era uma festividade muito linda, àquela época. Indiscutivelmente, foi uma época, cuja beleza cultural fora regada por muito afeto. As demais cidades vizinhas, inclusive, minha cidade natal de Montes Altos, procuravam seguir um cardápio cultural alicerçado no estilo grajauense, e, intumescidas de muito afeto familiar. É, para mim, lastimável, que não haja mais entre nossas famílias, escolas, igrejas, tamanha lindeza cultural em torno do Amor Materno e Paterno!

Gostaria, minha mãezinha querida, de poder juntar todas as lágrimas que já derramei pelas vezes, em que a saudade de você, do sabor de suas iguarias, o sabor daquelas laranjas conservadas nas laranjeiras até a chegada da chuva, especialmente, para mim, sem falar nos doces, bolos, galinhas cevadas, todas essas iguarias eram reservadas com o máximo de cuidado para serem usadas somente quando a Montes Altos-Ma chegasse. 

Minha mãe, você mesmo, aos 95 anos 6 meses, conseguia se lembrar do pedaço da galinha, que eu tanto gosto. Você, minha querida fonte de eterna saudade, sempre será a criatura mais única, em tudo, a passar por mim, angustiada com as feridas interiores, porventura, imaginadas por você, a exemplo do que a maioria das mães fazem. Inevitavelmente, minha mãezinha querida, com exceção, de minhas irmãs, o ciúme tomou conta de toda irmandade. Sob a alegação de ser o filho de sua preferência, até pouco antes de sua partida, que espero tenha sido para   o local tão sonhado por todo verdadeiro cristão, ou seja, O Céu!

Vou ficando, por aqui, minha querida mãe, pela primeira vez, em minha vida, sem a capacidade emocional de ouvir as lindas canções em homenagem às mães, na voz de minha querida Ângela Maria, Agnaldo Timóteo, e, alguns outros monstros da música popular brasileira. Pois, não suportaria ouvi-las, sem que as emoções me roubassem o controle de minhas lágrimas. Apesar de significativas e benéficas ao interior de minha alma, tenho medo que me possam faltar, um dia. 

Nesse finalzinho, minha idolatrada mãe – Orfisa, gostaria tanto, se me fosse possível, e, claro, a outros seres humanos poder vaguear pelos esconderijos do Infinito de Deus, e, certamente, encontrá-la intercedendo a Deus e a Virgem Maria, numa das possíveis e imagináveis do ambiente Celestial, cuja arquitetura, não nos é possível descrever. O sonho de Eternidade é muito belo, porém, às vezes, bastante incompreensível à ignorância sobre os segredos divinos.

Muito obrigado, minha doce e querida mãezinha do meu coração! Continue rogando a Deus pela saúde emocional e espiritual de nossa família aqui no Planeta Terra. Um grande beijo, e, a sua bênção inesquecível!

Imperatriz, 12 de maio de 2024  

*Itamar Dias Fernandes – Médico-Pediatra: UFPA, SBP, CRM, AMB

 Membro fundador do Corpo Freudiano de Imperatriz

 Membro da AIL