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Bomba: descoberta a lista secreta dos clássicos que García Márquez lia. Na opinião dele, “essenciais”.
Tudo começou durante um Wokshop, onde 10 jornalistas foram previamente escolhidos para participar ao lado do colombiano-Nobel
O mais importante é que romances e história, na lista, se misturam a clássicos da poesia, o que ratifica ser o gênero poético, base para quaisquer crescimentos literários.
Por: Mhario LincolnFonte: Mhario Lincoln/Márquez
Descoberta a lista de Clássicos que Gabriel García Marques lia
*Mhario Lincoln
No ano em que se volta a falar em Gabriel García Márquez e seu mais novo romance (quase não publicado e odiado pelo autor – “Em Agosto nos Vemos”), postaram uma matéria muito interessante escrita pelo jornalista Hernando Álvarez, (BBC World Service), que guarda há quase 30 anos, uma lista de obras clássicas que Gabriel García Márquez escreveu de próprio punho, numa tarde de abril de 1995, durante uma visita que Hernando fez a ele. Sem dúvida, é um momento (esse encontro) histórico e icônico.
O jornalista conta: “E se você tivesse que fazer uma lista dos clássicos essenciais, quais dos muitos, estariam incluídos?”, perguntou a Márquez. E ele respondeu:
– Vamos fazer a lista. Disse a um Hernando entusiasmado.
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Pois bem! Esse é o momento em que um dos maiores escritores do Planeta, pessoalmente, confessa quais livros lhe deram cabedal para consumar, de forma preciosa, sua vida profissional.
Na reportagem, repito, Márquez diz que nessa lista estão: “livros essenciais…”. Ora, então, quem tem um ótimo “dom”, e a isso, soma às leituras essenciais, clássicas ou não, os resultados serão surpreendentes. Exemplo: chegar ao Prêmio Nobel de Literatura de 1982.
Ele se junta a Gabriela Mistral (1945), do Chile, primeira latino-americana a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. E mais, em 1967, Miguel Ángel Astúrias (Guatemala). Em 1971, Pablo Neruda, do Chile. Em 1990, Octavio Paz (México). Em 2010, Mario Vargas Llosa (Peru). Será que aqui não caberia uma perguntinha básica que está coçando a minha língua e a de milhares de brasileiros? entendeu? Bom, tirem suas conclusões.
E eu, peguei carona nessa grandiosidade e fiz de “Cem Anos de Solidão”, a minha obra preferida em 70 anos de vida e, no mínimo, 45 anos de leitura contínua. Desde a minha primeira revistinha do “Tio Patinhas”, onde fiquei maravilhado com a palavra “helicóptero” e como ele conseguia pairar no ar, como um beija-flor.
Pena que a minha infância de ‘Fantasma’, ‘Zorro’, ‘BatMasterson’, ‘Cazuza’, ‘Recruta Zero’, ‘Durango Kid’, ‘Zezé’, ‘Kripta’, ‘Mandrake’ e tantas outras, foi quase que imediatamente esquecida quando li, pela primeira vez, uma revista sueca, comprada às escondidas, por baixo das “jardineiras, roupas da marca Lee” e do perfume “Paco Rabane”, numa lojinha que ficava na rua Godofredo Viana, entre os prédio da Faculdade de Direito e o Edifício São Luís.
Mas, voltando à reportagem da BBC/Brasil, imagina uma pessoa como o ganhador do Nobel de Literatura de 1983 entregando ao Hernando, uma lista secreta de clássicos que havia lido?
-Imagina essa história de como consegui essa lista que foi contada inúmeras vezes à minha família e amigos. Uma prova da generosidade e da humildade do único escritor colombiano a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura.
Tudo começou durante um Wokshop, onde 10 jornalistas foram previamente escolhidos para participar ao lado do colombiano-Nobel. Na primeira oportunidade de ficar com o escritor sozinho, Hernando criou coragem e fez uma pergunta crucial para o momento:
– E se você tivesse que fazer uma lista dos clássicos essenciais, quais livros estariam incluídos?
Gabriel respondeu: “Vamos fazer a lista“. Aí, Hernando – conta – abriu rapidamente seu caderno de repórter e começou a escrever a lista:
Quer saber quais livros? Leia abaixo. Alguns deles tento comentar, apesar de me terem sido desconhecidos até o momento:
1. A Bíblia
2. Mil e Uma Noites
3. Platão e Aristóteles
4.. A Odisseia
5. Os Filósofos Ilustres. Diógenes Laércio
6. Sófocles: Édipo
7. Os Doze Césares (Suetônio)
No domingo mesmo, quando visitei a “Livraria Leitura”, aqui em Curitiba, vi esse livro (vide foto). “A Vida dos Doze Césares”, de Suetônio em 121 d.C. É uma obra literária que documenta as biografias dos primeiros doze imperadores de Roma, começando por Júlio César e seguindo até Domiciano. Suetônio, que atuava como secretário do imperador Adriano, compila detalhes tanto dos feitos políticos e militares quanto das peculiaridades pessoais e escândalos dos césares. Seu estilo narrativo é marcado por uma abordagem direta e, por vezes, sensacionalista, que captura a humanidade e as falhas dos líderes romanos com um detalhe vívido e íntimo. A obra é considerada fundamental para o estudo da história romana devido ao seu rico conteúdo que abrange desde a fundação de dinastias até os comportamentos decadentes e governos tirânicos.
8. Plutarco
9. A Divina Comédia (Inferno)
10.Horácio (Poesia)
Ainda não conhecia, confesso, ipisis litteris, “Horácio”, cujo nome mesmo é Quinto Horácio Flaco, em latim, Quintus Horatius Flaccus, poeta lírico e satírico romano, além de filósofo. Aliás, dentro o pouquíssimo que conhecia dele, está a famosa, “Carpe diem quam minimum credula postero.” Isto é, “aproveite o dia de hoje e nada espere do dia seguinte”.
11.El mio Cid (Romances)
Didaticamente, “El mio Cid”, ou “Cantar de mio Cid”, é um épico poético espanhol que narra as aventuras de Rodrigo Díaz de Vivar, o Cid Campeador, um nobre e guerreiro medieval que viveu no século XI. Este poema, considerado uma das obras fundamentais da literatura espanhola, combina elementos históricos com ficção, apresentando um retrato heroico e idealizado de seu protagonista. A obra, que data do final do século XII ou início do século XIII, é composta por mais de 3.700 versos, divididos em três cantares: “Cantar del Destierro”, “Cantar de las Bodas” e “Cantar de la Afrenta de Corpes”.
12.”Amadis da Gália”
Algo me diz que tem alguma coisa a ver com “Dom Quixote”. Ou, não? Quem souber, comenta aqui abaixo. Vai me ajudar bastante. Mas, “Amadis de Gaula” é uma obra seminal na literatura de cavalaria, originária da Península Ibérica e escrita inicialmente em prosa espanhola no século XIV, embora a versão mais conhecida seja a portuguesa de João de Lobeira. A narrativa segue a vida e as aventuras do cavaleiro Amadis, famoso por seu invencível talento nas artes marciais e por seu amor inabalável pela princesa Oriana. “Amadis de Gaula” influenciou significativamente o gênero de romance de cavalaria na Europa, marcando um ponto de transição dos valores medievais para os ideais renascentistas de honra e virtude pessoal. Esta obra é considerada um dos precursores dos romances modernos devido à sua estrutura narrativa elaborada e ao desenvolvimento profundo de seus personagens. que maravilha, não é. Estou tentando encontrar essa obra em preços acessíveis.
13.Dom Quixote
14. Poesia: Idade de Ouro Espanhola
Em meu bestunto, destaco “Poesia: Idade de Ouro espanhola”. Aliás, outro dia, bisbilhotando a Biblioteca do Senado, descobri algumas pérolas, como esses versos de Garcilaso de La Vega. Nem havia dado tanta muita importância ao soneto dele:
y cuanto yo escribir de vos deseo;
vos sola lo escribisteis, yo lo leo
tan solo, que aun de vos me guardo en esto.
En esto estoy y estaré siempre puesto;
que aunque no cabe en mí cuanto en vos veo,
de tanto bien lo que no entiendo creo,
tomando ya la fe por presupuesto.
Yo no nací sino para quereros;
mi alma os ha cortado a su medida;
por hábito del alma mismo os quiero.
Cuando tengo confieso yo deberos;
por vos nací, por vos tengo la vida,
por vos he de morir, y por vos muero.
Na verdade, a “Idade de Ouro” da poesia espanhola refere-se ao período entre os séculos XVI e XVII, conhecido por sua riqueza e diversidade poética. Caracterizada por uma fusão única de tradições literárias medievais e renascentistas, essa época viu o surgimento de poetas como o próprio Garcilaso de la Vega, San Juan de la Cruz, Santa Teresa de Ávila e Luís de Góngora, que exploraram temas como amor, religião e mitologia, além de inovarem na forma poética.
15. Gargântua e Pantagruel.
Abro um parêntese aqui, para revelar um toque do gênero fantástico de Márquez. Ele deve ter burilado alguns detalhes de sua criação lendo esse romance, que conta a vida de dois gigantes Gargântua e seu filho Pantagruel, escrito no século XVI por François Rabelais. Esse texto é escrito “numa veia humorosa, extravagante e satírica, e apresenta muita crueza, humor negro e violência”, diz pesquisa na Wikipédia.
16. Paraíso Perdido – Milton
Essa, acima, é uma outra grande obra. “Paradise Lost” de John Milton é um poema épico que investiga a história bíblica da queda do homem, destacando a desobediência de Adão e Eva e as consequências que se seguiram. O poema é conhecido por seu retrato complexo de Satanás como um anti-herói trágico e por explorar temas como livre arbítrio, obediência e a natureza da justiça divina. Escrito em versos o poema foi publicado pela primeira vez em 1667 e depois, revisado em 1674. A obra de Milton está profundamente imbuída de alusões clássicas e reflexões religiosas, apresentando um universo de vasto alcance, mas de provações e tribulações pessoais e íntimas.
17. Cronistas das Índias
O próprio Hernando fala dessa obra. então fui ao Google e encontrei o seguinte: ” O livro – Cronistas de Indias – se refere a um corpo de obras escritas por cronistas durante a época da conquista e colonização das Américas por espanhóis e portugueses. Essas obras são fundamentais para entendermos a história do Novo Mundo, pois fornecem relatos detalhados sobre os eventos, a cultura, as paisagens e os povos indígenas da época. Os cronistas, muitos dos quais eram oficiais, missionários ou viajantes, desempenharam um papel crucial em documentar a história e as impressões dos primeiros anos de contato e conflito entre europeus e nativos americanos”.
EPÍLOGO
Depois que li a reportagem do jornalista Hernando Álvarez, (BBC World Service), notei o quanto ainda sou ignorante em milhares de coisas que pertencem à Literatura Mundial. Portanto, às vezes me pego ouvindo ou lendo certos “donos da verdade”, em meio ao enxame planetário de informações clássicas. Mas duas coisas ratifiquei em mim: minha obsessão incontrolada por ler sempre “Cem Anos de Solidão” e a consciência de Márquez com relação à obrigatoriedade de se ler poesia para crescer literalmente.
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A Lista Completa
1. A Bíblia
2. Mil e Uma Noites
3. Platão e Aristóteles
4.. A Odisseia
5. Os Filósofos Ilustres. Diógenes Laércio
6. Sófocles: Édipo
7. Os Doze Césares (Suetônio)
6. Plutarco
7. A Divina Comédia (Inferno)
8. Horácio (Poesia)
9. El mio cid (Romances)
10. Amadis da Gália
11. Dom Quixote
12. Poesia: Idade de Ouro Espanhola
13. Gargântua e Pantagruel
14. Paraíso Perdido – Milton
15. Cronistas das Índias
*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.