Caso Ana Caroline: MP denuncia suspeito do assassinato pelo crime de feminicídio; pedido foi aceito pela Justiça

Caso Ana Caroline: MP denuncia suspeito do assassinato pelo crime de feminicídio; pedido foi aceito pela Justiça
Publicado em 19/05/2024 às 10:10

Ana Caroline tinha 21 anos e foi encontrada morta com a pele do rosto, couro cabeludo e olhos arrancados no Bairro Novo, em Maranhãozinho. Elizeu Carvalho de Castro é acusado de ter cometido o crime.

O Ministério Público do Maranhão (MP-MA), denunciou à Justiça Elizeu Carvalho de Castro, conhecido como “Bahia” ou “Baiano”, de 32 anos, pelo feminicídio da jovem lésbica Ana Caroline Sousa Campelo, que foi encontrada morta, no dia 10 de dezembro de 2023, com requintes de crueldade no Bairro Novo, em Maranhãozinho, cidade a 232 km de São Luís.
Ana tinha 21 anos e, meses antes do crime, morava na cidade de Centro do Guilherme, mas se mudou para Maranhãozinho para morar com a namorada.
A denúncia foi oferecida no dia 2 de maio, pela Promotoria de Justiça de Governador Nunes Freire, e aceita pelo juiz João Paulo de Sousa Oliveira na última sexta-feira (10).
De acordo com a Denúncia, assinada pelo promotor de justiça Felipe Boghosian Soares da Rocha, Ana Caroline teria sido morta com emprego de asfixia e meio cruel, mediante recurso que dificultou a defesa dela. A motivação para o crime, segundo o MP-MA, seria por “razões ligadas à condição de sexo feminino da vítima”.
O Ministério Pública apontou na denúncia que no inquérito policial consta que, na madrugada de 10 de dezembro de 2023, Ana Caroline Campelo deixou seu local de trabalho por volta de 1h, retornando para sua casa. No caminho, a jovem passou a ser perseguida por um homem em uma motocicleta, que foi identificado como sendo Elizeu de Castro.
A uma esquina da casa da vítima, em local deserto, Elizeu teria obrigado Ana Caroline a subir na moto dele e a levou para uma estrada vicinal, em direção ao Povoado Cachimbo. Nesse povoado, o homem teria matado a jovem por asfixia.
Ainda de acordo com a Denúncia, o crime foi praticado de forma cruel, pois Baiano teria arrancado a pele do rosto da vítima, olhos, orelhas e parte do couro cabeludo.
Após o crime, Elizeu teria abandonado o corpo no local, que foi encontrado na manhã do mesmo dia.
Após ser identificado pela Polícia Civil como autor do crime, Elizeu de Castro foi preso em 31 de janeiro de 2024, em uma fazenda no município de Maranhãozinho. Elizeu negou a participação no assassinato e ficou calado nos interrogatórios. O denunciado encontra-se preso na Unidade Prisional São Luís I à disposição da Justiça.
Imagens de câmera de segurança obtidas pelo g1 registraram os momentos anteriores à morte de Ana Caroline (veja acima). O vídeo mostra a jovem pela Rua Nova Um, via que dá acesso à estrada para Cachimbós. Ao terminar a rua, a jovem lésbica vira à direita. O relógio registra 1h59 da madrugada. Segundos depois, surge na gravação um homem de camiseta branca em uma moto e faz o mesmo trajeto do que a jovem.
O corpo de Ana Caroline foi encontrado por familiares próximo à Rua Getúlio Vargas, a cerca de 300 metros da rua onde ela teria virado com sua bicicleta. Os parentes encontraram primeiro sua bicicleta antes de achar seu corpo.
Uma vizinha de Ana Caroline contou à polícia que, pouco antes de desaparecer, viu a jovem com um homem de camiseta branca em uma moto.
A testemunha disse ter visto quando esse homem colocou Ana Caroline no veículo e partiu em direção a uma estrada vicinal, que dá acesso ao povoado Cachimbós, onde o corpo foi posteriormente encontrado.
Corpo foi exumado
No dia 16 de fevereiro, a Perícia Oficial do Maranhão também exumou o corpo de Ana Caroline, após decisão da Justiça. Autora do pedido, a Polícia Civil alegou que o corpo foi enterrado sem nenhum exame criminalístico.
O corpo da jovem lésbica estava enterrado em Centro do Guilherme (MA), cidade natal da vítima, e, com a decisão, os restos mortais foram levados para perícia em São Luís.
Protestos e debate sobre lesbofobia e lesbocídio
A morte de Ana Caroline causou protestos de ativistas – com atos em diversas cidades do país – e reação da ministra da Mulher, Cida Gonçalves, que classificou a morte como lesbofobia e crime de ódio contra as mulheres.


Nos atos, as manifestantes cobraram respostas da Polícia Civil do Maranhão e mudanças legislativas que protejam lésbicas. Um dos questionamentos ligados à apuração do assassinato é se foi feita perícia na bolsa de Ana Caroline, supostamente usada para enforcá-la.
No Instagram, a página Levante Contra o Lesbocídio (veja acima) articula as cobranças pela solução do homicídio, imagens das manifestações e debate o uso do termo “lesbocídio” como uma forma de tipificação dentro do feminicídio.
“O Levante Nacional Contra o Lesbocídio é uma resposta das lésbicas em defesa das nossas próprias vidas e da nossa memória. Estão tirando nosso direito de viver e de contar nossas histórias depois que tiram nossas vidas de nós. O que aconteceu com Ana Caroline? Nós queremos saber e não aceitaremos caladas”, afirma Natalia Kleinsorgen, integrante do Levante Nacional Contra o Lesbocídio.
Por g1 MA