LITERATURA….LITERALMENTE / POR PAULO RODRIGUES / EDITOR 

LITERATURA….LITERALMENTE / POR PAULO RODRIGUES / EDITOR 
Publicado em 24/06/2024 às 12:13

 FUMÊS AO CREPÚSCULO

Reinventar a vida é redimi-la de toda a sua crueza

não de suas mediações

É preciso desculpá-la em seu teatro cósmico

e reconhecer que nós continuamos

a ser tão ranzinzas, tão mesquinhos

William Carlos William deveria estar vivo

para ver este crepúsculo

Diante do mar

nós tiraríamos calmamente os nossos óculos.

Por Antonio Aílton, poeta, ensaísta, membro da Academia  

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Inventário

 Por Kissyan Castro

não tive ouro ou gado que me valha

neste pasto-imposto

cobrado à sanha de metralha

(em vez de dólar dolo

o duplo das vezes fezes)

não tive ouro ou gado que me valha

neste pasto feito excremento 

o silêncio atroz que me navalha

é tudo o que hoje ostento.  

Kissyan Castro, poeta, pesquisador, membro da Academia de Letras de Barra do Corda

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Meu povo, meu poema

Por Ferreira Gullar

Meu povo

e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova

No povo meu poema

vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar

No povo meu poema

está maduro

como o sol

na garganta do futuro

Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga

se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui

devolvo

menos como quem canta

do que planta. 

                                                                                                      Ferreira Gullar, poeta, crítico de arte, 

imortal da Academia Brasileira de Letras.

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CAMPO-SANTO

Por Carvalho Junior

é sombra de quintal e silêncio

a pedra que me cobre inteiro.

o canto de um choró-boi

garganteia a despedida,

na minha cruz de pau,

flor arrancada dos dedos

de um ancestral jenipapeiro.

Carvalho Junior, poeta pesquisador, ativista cultural,

 imortal da Academia Caxiense de Letras.

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DOSE

 Por Paulo Rodrigues 

na praça Duque de Caxias

embriago

o sonho

nos olhos nômades

do meu ressentimento.

saio pisando

a cinza dos cigarros

sem interesse

no desespero do óbito.

encontro outros bêbados.

seguro na mão

do homem

que teima

em caminhar.

com as mãos ainda casadas

esmagamos uma aranha.

agora,

choramos juntos

 mas, não morrerei de lucidez.

Paulo Rodrigues, poeta, ensaísta, membro 

da Academia Caxiense de Letras

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