O ABORTO, INFELIZMENTE ESTÁ CRIMINOSAMENTE LEGALIZADO NO BRASIL

O ABORTO, INFELIZMENTE ESTÁ CRIMINOSAMENTE LEGALIZADO NO BRASIL
Publicado em 24/06/2024 às 12:15

Há décadas a classe médica e religiosos, exceto a Igreja Católica Apostólica Romana, Espíritas e algumas denominações evangélicas se manifestam contrários publicamente 

Por  Itamar Dias Fernandes – Médico -Pediatra

        Infelizmente, Doutor. Nailton, o aborto vem sendo permitido por lei, em nosso Brasil, há décadas.  Sem ser cientista, fundamentalista judaico-cristão, ou de extrema direita, ou, de extrema esquerda, sempre pensei que a vida se inicia, biologicamente, a partir da fecundação. 

E, afetivamente, a partir do desejo da mãe, (Sigmund Freud). Bom, seria, que esse desejo fosse dos genitores-pais. Mas, lamentavelmente, nem sempre os genitores de uma criança se tornam seus verdadeiros pais. Sou, e serei, sempre, contra o aborto, mesmo, em se tratando de estupro.

Sobre a realidade dos inúmeros casos de estupros, não devemos virar as costas para a triste realidade de bebês, filhos de casais reconhecidos pela sociedade, ou não, em sua maioria, serem frutos de estupros psicológicos decorrentes do machismo vigente entre nós, até hoje. Não é raro, meu colega Nailton, o grande número de mulheres, em suas condições de submissão matrimonial, engravidarem, após uma relação sexual não compartilhada afetivamente com o seu companheiro. Muitas vezes, o companheiro sob estado de embriaguez, age com brutalidade física, inclusive, para possuí-la. Como, se, de fato, fosse seu dono completamente. Tais comentários levam-me a lembrar as cenas terríveis, vividas pela personagem interpretada por Maitê Proença, na qualidade de esposa do personagem de José Wilker, na última versão da novela Gabriela – Jorge Amado – Tv. Globo. Sem dúvidas quaisquer que sejam, em nossa sociedade governada pelo espírito fálico, meramente restrito à genitalidade, raríssimas são as mulheres que não se submetem aos “instintos” do companheiro.

Imagem meramente ilustrativa / reprodução 

Recentemente, a imprensa nacional e internacional noticiaram que a jovem foi vítima de uma rotura vaginal, após uma relação sexual com um jogador do Corinthians. Indiscutivelmente, houve, brutalidade, sim, na relação sexual, entre os dois envolvidos. Não sou ginecologista, mas ninguém me convencerá do contrário, com relação a esse episódio, além, de outros mais, com as mesmas consequências traumáticas e, até, a morte, durante, o ato sexual. 

Fico, portanto, a me perguntar: como, é possível, alguém interpretar como sendo uma mulher, cuja gravidez se deu por meio da violência de um estupro, ao praticar aborto, ser considerada mais criminosa, que o autor do estupro? É, simplesmente, ridículo, tal entendimento por grande parte do nosso legislativo brasileiro. Tenho plena convicção, tratar-se de uma verdadeira atitude hedionda, tanto o estupro, quanto o aborto. 

A vida é uma dádiva de Deus! Mesmo, em se tratando de estupro, não temos o direito de matar um inocente, que, nos seus primeiros 45 dias de vida uterina, já possui uma amigdala cerebral capaz de sentir dor e medo. E, aos 21 meses de vida, já estamos com 100 bilhões de neurônios prontos. A partir de 21 semanas de gestação, 80% de nosso desenvolvimento mental e emocional estará diretamente associado aos fatores epigenéticos, os quais serão importantes durante os próximos 4 anos, especialmente, pós-parto, no que se refere a saúde neuropsíquica na vida adulta do ser humano.  Isso, indiscutivelmente, é um convite, a nós pediatras, para a prevenção do estresse tóxico, o qual é responsável pela poda neural de forma precoce e acentuada, nos primeiros 1000 dias de vida, em especial. 

Diante de tais informações baseadas em evidencias cientificas, como, entender decente, uma lei que determina o aborto até 21 semanas de gestação? É, simplesmente, um verdadeiro absurdo dos legisladores e nosso enquanto profissionais da saúde. O CFM, inclusive, é participe dos que defendem o aborto nos casos de estupros. Sinceramente, vejo, hoje, com muita descrença, dentro da comunidade médica, esse discurso antiaborto, uma vez, que, há muito tempo, foi legalizado no Brasil, sob o silencio da comunidade médica.

Na década de 80, juntamente, com o movimento de Cursilho da nossa Diocese, eu liderei uma passeata contra o aborto, em nossa cidade, saindo da Praça Brasil até à Praça de Fátima, infelizmente, o número de participantes, foi muito aquém do que esperávamos. Isso, apesar do apoio irrestrito da TV MIRANTE e todos os canais de televisão e radiodifusão de nossa cidade. De médico presente, somente, o dr. Paulo Guimarães. Irmãos católicos ou protestantes cristãos foram bem poucos, considerando-se, a gravidade do problema e o número dos, que se dizem convertidos em Cristo Jesus.

Mesmo assim, sentimo-nos, plenos de contentamento, no final daquela manifestação, quando soubemos, que uma jovem, prestes a abortar, ao ver os caixõezinhos nas proximidades do calçadão, desistiu de abortar. Lembro-me, quando, à sra.  Dídima Rocha, uma das líderes do movimento a carregar um caixãozinho, ao dizer: “Dr. Itamar, eu imaginava dar mais gente”! No que lhe respondera: infelizmente, a insensibilidade humana frente a essa questão é muito pequena. Especialmente, entre os letrados. Um abraço!

Imperatriz, 22/06/2024

*Itamar Dias Fernandes – Médico -Pediatra – UFPA, SBP, AMB, CRM

Fontes  A NEUROCIÊNCIA E OS BEBÊS DE ZERO AOS 3 ANOS;- YOLE 

CUNHA – SBP

PALESTRA EM VIDEO – A INFANCIA –  DR. YVAN CAPELATO – UNICAMP-