Olavo Bilac: O Príncipe dos Poetas e da República 

Olavo Bilac: O Príncipe dos Poetas e da República 
Publicado em 09/06/2024 às 16:18

   

Símbolo da poesia parnasiana no Brasil, Olavo Bilac é considerado um dos maiores poetas brasileiros do final do século XIX

Olavo Bilac: O Príncipe dos Poetas e da RepúblicaO poeta parnasiano Olavo Bilac (1865-1918) | Arte: Daniela Cagnoni

Provavelmente você já ouviu o nome de Olavo Bilac. Conhecido como o “Príncipe dos Poetas”, nascido em 16 de dezembro de 1865, no Rio de Janeiro, ele foi um dos mais importantes poetas brasileiros do final do século XIX e início do século XX. Além de poeta, Bilac foi jornalista, contista, crítico, tradutor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras.

Filho de Brás Martins dos Guimarães Bilac e D. Delfina “Biloca” Bilac, Olavo Bilac desde cedo demonstrou interesse pela literatura e pelas letras. Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, mas abandonou o curso para dedicar-se integralmente à literatura, o que o levou a ser conhecido também como “O Poeta da República”.

Bilac tornou-se uma figura influente no meio literário brasileiro, participando ativamente do movimento simbolista. Seus poemas, marcados pela musicalidade e pela sensibilidade lírica, abordam temas como amor, natureza, patriotismo e espiritualidade. Entre suas obras mais conhecidas estão “Via Láctea”, “O Caçador de Esmeraldas”, “Sarças de Fogo” e “Tarde”.

Além de sua produção poética, Bilac também foi um renomado jornalista, colaborando em diversos periódicos da época, como “A Notícia”, “O País” e “O Estado de São Paulo”. Sua atuação como crítico literário foi fundamental para a consolidação do Simbolismo no Brasil, influenciando toda uma geração de escritores.

Em 1897, Olavo Bilac foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 15. Sua participação ativa na instituição contribuiu para a valorização da literatura brasileira e para a preservação da memória literária do país.

Apesar de sua importância para a cultura brasileira, Bilac enfrentou dificuldades financeiras ao longo da vida, o que o levou a dedicar-se também à tradução de obras literárias, a fim de garantir seu sustento. Sua tradução da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, é considerada uma das melhores em língua portuguesa.

Olavo Bilac faleceu em 28 de dezembro de 1918, deixando um legado literário que continua a inspirar gerações de leitores e escritores brasileiros. Sua poesia, marcada pela beleza e pela profundidade, permanece como um dos pilares da literatura brasileira, sendo estudada e apreciada até os dias de hoje. Confira 5 poemas de Olavo Bilac aqui nesta página de literatura: 

 

“OUVIR ESTRELAS

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

(Poesias, Via-Láctea, 1888.)

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NEL MEZZO DEL CAMIN…

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada

E triste, e triste e fatigado eu vinha.

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma de sonhos povoada eu tinha…

E paramos de súbito na estrada

Da vida: longos anos, presa à minha

A tua mão, a vista deslumbrada

Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo… Na partida

Nem o pranto os teus olhos umedece,

Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,

Vendo o teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo.

(Poesias, Sarças de fogo, 1888.)

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A UM POETA

Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, no silêncio e no sossego,

Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua,

Rica, mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício

Do mestre. E, natural, o efeito agrade,

Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,

Arte pura, inimiga do artifício,

É a força e a graça na simplicidade.

(Tarde, 1919.)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura;

Ouro nativo, que, na ganga impura,

A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceanos largos!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

(Tarde, 1919.)

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AS ONDAS

Entre as trêmulas mornas ardentias,

A noite no alto mar anima as ondas.

Sobem das fundas úmidas Golcondas,

Pérolas vivas, as nereidas frias:

Entrelaçam-se, correm fugidias,

Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,

Vestem as formas alvas e redondas

De algas roxas e glaucas pedrarias.

Coxas de vago ônix, ventres polidos

De alabatro, quadris de argêntea espuma,

Seios de dúbia opala ardem na treva;

E bocas verdes, cheias de gemidos,

Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,

Soluçam beijos vãos que o vento leva…

(Tarde, 1919.)

Por Luana Castro

Graduada em Letras”

Veja mais sobre “Cinco poemas de Olavo Bilac” em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/cinco-poemas-olavo-bilac.htm