Olavo Bilac: O Príncipe dos Poetas e da República
Símbolo da poesia parnasiana no Brasil, Olavo Bilac é considerado um dos maiores poetas brasileiros do final do século XIX
O poeta parnasiano Olavo Bilac (1865-1918) | Arte: Daniela Cagnoni
Provavelmente você já ouviu o nome de Olavo Bilac. Conhecido como o “Príncipe dos Poetas”, nascido em 16 de dezembro de 1865, no Rio de Janeiro, ele foi um dos mais importantes poetas brasileiros do final do século XIX e início do século XX. Além de poeta, Bilac foi jornalista, contista, crítico, tradutor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
Filho de Brás Martins dos Guimarães Bilac e D. Delfina “Biloca” Bilac, Olavo Bilac desde cedo demonstrou interesse pela literatura e pelas letras. Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, mas abandonou o curso para dedicar-se integralmente à literatura, o que o levou a ser conhecido também como “O Poeta da República”.
Bilac tornou-se uma figura influente no meio literário brasileiro, participando ativamente do movimento simbolista. Seus poemas, marcados pela musicalidade e pela sensibilidade lírica, abordam temas como amor, natureza, patriotismo e espiritualidade. Entre suas obras mais conhecidas estão “Via Láctea”, “O Caçador de Esmeraldas”, “Sarças de Fogo” e “Tarde”.
Além de sua produção poética, Bilac também foi um renomado jornalista, colaborando em diversos periódicos da época, como “A Notícia”, “O País” e “O Estado de São Paulo”. Sua atuação como crítico literário foi fundamental para a consolidação do Simbolismo no Brasil, influenciando toda uma geração de escritores.
Em 1897, Olavo Bilac foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 15. Sua participação ativa na instituição contribuiu para a valorização da literatura brasileira e para a preservação da memória literária do país.
Apesar de sua importância para a cultura brasileira, Bilac enfrentou dificuldades financeiras ao longo da vida, o que o levou a dedicar-se também à tradução de obras literárias, a fim de garantir seu sustento. Sua tradução da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, é considerada uma das melhores em língua portuguesa.
Olavo Bilac faleceu em 28 de dezembro de 1918, deixando um legado literário que continua a inspirar gerações de leitores e escritores brasileiros. Sua poesia, marcada pela beleza e pela profundidade, permanece como um dos pilares da literatura brasileira, sendo estudada e apreciada até os dias de hoje. Confira 5 poemas de Olavo Bilac aqui nesta página de literatura:
“OUVIR ESTRELAS
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
(Poesias, Via-Láctea, 1888.)
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NEL MEZZO DEL CAMIN…
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
(Poesias, Sarças de fogo, 1888.)
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A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, no silêncio e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica, mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
(Tarde, 1919.)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(Tarde, 1919.)
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AS ONDAS
Entre as trêmulas mornas ardentias,
A noite no alto mar anima as ondas.
Sobem das fundas úmidas Golcondas,
Pérolas vivas, as nereidas frias:
Entrelaçam-se, correm fugidias,
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,
Vestem as formas alvas e redondas
De algas roxas e glaucas pedrarias.
Coxas de vago ônix, ventres polidos
De alabatro, quadris de argêntea espuma,
Seios de dúbia opala ardem na treva;
E bocas verdes, cheias de gemidos,
Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva…
(Tarde, 1919.)
Por Luana Castro
Graduada em Letras”
Veja mais sobre “Cinco poemas de Olavo Bilac” em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/cinco-poemas-olavo-bilac.htm