Os referenciais sobre o ‘Existencial de Agosto’, livro de Pergentino Holanda. Texto de Mhario Lincoln

Os referenciais sobre o ‘Existencial de Agosto’, livro de Pergentino Holanda. Texto de Mhario Lincoln
Publicado em 06/02/2024 às 12:01
fonte: facetubes.com.br

A maioria da população que lê jornais, lê colunas sociais. Junto a isso, a qualidade explícita e diferenciada da coluna de PH a transformou numa das páginas de significativa leitura.

Por: Mhario Lincoln

PH e sua obra

Ao depois do “Existencial de Agosto”

(*) Mhario Lincoln

Há muito tempo, tive o privilégio de conhecer Pergentino Holanda. O nosso primeiro encontro ocorreu no restaurante “Palheta,” situado no antigo aeroporto de São Luís. Naquela ocasião, minha mãe, Flor de Lys, organizava um jantar de apresentação das jovens maranhenses, preparando-as para o concurso regional “Rainha do Algodão.” Durante nosso encontro, tive a oportunidade de dialogar com Pergentino por quase uma hora, e logo ficou evidente que ele era uma pessoa excepcional. Bastaram algumas palavras e a partilha de sonhos para que eu antecipasse seu brilhante destino.

Algum tempo depois, tive o privilégio de ter acesso à primeira obra poética de PH, intitulada “Existencial de Agosto.” O livro foi prontamente reconhecido pela crítica literária, transcendendo as fronteiras geográficas, ultrapassando o estreito dos Mosquitos, que separa a Ilha do Continente. Personalidades da Academia Brasileira de Letras, especialistas dos principais veículos de comunicação e figuras de destaque na sociedade aplaudiram a estreia de Pergentino Holanda. Ele recentemente escreveu sobre sua primeira incursão na área poética. Veja que singeleza e sinceridade tem o texto:

“(…) não há como esquecer daquela noite de Lua Cheia, Erasmo Dias discursando com sua voz rouca e sábia. Murilo Ferreira também. Josué Montello e João Mohana no meio da multidão. A Fonte do Ribeirão jorrava ritmos na crônica do José Chagas para pedir desculpas por não ter comparecido por problemas de última hora. “Não juro em nome da Lua que é inconstante, mas em nome da Poesia que é fiel e eterna”, se desculpou pela ausência sentida. Saí da Fonte sem um livro nas mãos. Compraram todos. Autografei muitos. (…)”.

Esse momento marcou o início de uma brilhante trajetória poética, como também, impulsionou sua carreira como colunista diário, explorando as intrincadas nuances da sociedade. No entanto, sua abordagem era única, indo além das trivialidades da elite, penetrando de maneira singular e distinta, inaugurando o que eu costumava chamar de “colunismo conceitual pós-romântico.” Com sua perspicácia, PH interferiu e modificou os hábitos da classe mais abastada, ressuscitando a era áurea do glamour nacional personificada por figuras como Ibrahim Sued e Jacinto de Thormes.

A coluna de Pergentino Holanda, veiculada nas páginas do “O Estado do Maranhão,” tornou-se um influente condutor da opinião pública. Ela era lida avidamente, transcendendo barreiras sociais. Desde os menos afortunados até o leitor mais assíduo, todos se deleitavam com suas palavras. Marques de Melo teorizou que o colunismo preenchia uma necessidade de satisfação substitutiva entre o público leitor, permitindo-lhes participar de maneira abstrata e à distância no mundo dos colunistas, normalmente reservado ao poder e à celebridade. 

A qualidade inquestionável e a abordagem distinta da coluna de PH a transformaram em uma das páginas de leitura mais significativas. Claro, toda essa experiência apenas aprimorou a excelência de seu trabalho diário, rendendo-lhe fama e reconhecimento imediatos. Isso me remete à análise do sociólogo francês Erik Neveu, que desvelou a importância do discernimento do editor de colunas sociais ao valorizar acontecimentos de maneira emocional e conceitual, evitando a mera reprodução de comunicados pré-fabricados.

Desta forma, é fundamental publicar notícias exclusivas, obter acesso à fonte de informação o mais rápido possível e apresentar as matérias de maneira pessoal e conceitual, proporcionando ao leitor informações rápidas, quase sempre inéditas e substanciadas. Pergentino Holanda desempenha esse papel com maestria, inclusive, através das redes sociais.

Por outro lado, voltando ao “Existencial de Agosto (& outras viagens poéticas)”, 50 anos depois, algumas líricas de PH são herméticas, porém solúveis em instinto e graça, de acordo com o esforço necessário de decomposição físico-químico da própria saudade do leitor, necessidade e síncope do medo. Então, dessa forma, é possível compreender e apreciar a poesia de Pergentino Holanda, seguindo o francês Gilles Deleuze que me ensinou sobre a importância da arte e da literatura em nossa vida cotidiana. Ele argumenta que a arte nos permite experimentar novas formas de pensar e sentir, e que a literatura pode nos ajudar a compreender melhor o mundo ao nosso redor. Assim, a poesia de Pergentino Holanda, com sua complexidade e profundidade, é um exemplo de como a literatura pode nos desafiar e nos inspirar a pensar de maneiras novas e criativas, mesmo que isso traga das amálgamas da alma, algo que possa surpreender lá na frente, como nesse verso impactante: “Fui a gota de chuva em sua língua”. Abaixo, um exemplo do que digo:

A POÉTICA DE PH

Pensei, em vão, que ela tivesse desistido de mim. Cada barco seguindo seu rumo. Eu preferia assim. Consegui ser seu em minha fantasia. Ela sentiu medo, é natural. Se arrependeu como uma neblina. Fui a gota de chuva em sua língua.

Ela levou os versos que guardei para o inverno. Agora senti frio, sem verbo. Procurei nos pássaros o assobio noturno. O que te atrai em ruas encardidas. Somos poucos, em rodízio. Amargamos a solidão do clima. Pode ir agora, já dissolvi a banda. Vê se não desmorona, meu encanto, clamei. Repartimos momentos. Todos para ela, eu fiquei só olhando-a. Não a chamei de querida, não éramos tão íntimos. Mas de musa, de outra vida. Não posso deixar de dizer, mesmo que queira. Temo esquecer o que te beija.

Abordo tuas personagens. Mas quero tocar a intenção que faz a arte. Não esqueça. Hoje é dia de pegar o que desejas. Esse último eu solto na beira. Jogo na primeira base. Não para fazer pontos, mas porque ali te abres. Se a fonte da tua beleza molhar meu beijo, tudo o que eu disser será eterno. Não podes escapar, clássica. Sou o historiador da tua arte. (PH).