Saúde
A AUDÁCIA NA VIDA MODERNA
Ruy Palhano
Neuropsiquiatra
Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
“Audácia” é uma palavra que se refere à disposição para correr riscos ou se comportar de maneira ousada, muitas vezes quebrando convenções ou desafiando expectativas sociais. Pode ser considerada tanto uma qualidade positiva quanto negativa, dependendo do contexto. Em um sentido positivo, a audácia pode ser vista como coragem ou ousadia para enfrentar desafios difíceis ou realizar algo notável. Em um contexto negativo, pode ser interpretada como imprudência ou desrespeito às normas sociais ou regras. A audácia é frequentemente associada à inovação, à liderança e à habilidade de superar obstáculos através de métodos não convencionais.
Além do mais, a audácia refere-se ao sujeito, atrevido, intrépido, que tende a agir de forma temerária a realizar ações difíceis, desprezando obstáculos e situações de perigo; é também, ousadia, intrepidez, denodo. Poderíamos dizer que audácia é algo menor que coragem: o audacioso é um corajoso em menores proporções.
Etimologicamente, a palavra “audácia” vem do latim “audacia”, que tem a mesma grafia e significado. Esta palavra latina, por sua vez, deriva de “audax”, que significa “ousado”, e está relacionada a “audere”, que significa “ousar” ou “ter coragem”. No latim, “audax” é formado pela raiz “aud-” (relacionada à noção de ousadia e coragem) e o sufixo “-ax”, que indica uma característica ou disposição para a ação.
Portanto, a etimologia da palavra “audácia” reflete a ideia de ousadia, coragem e disposição para enfrentar riscos ou desafios. Ao longo do tempo, esta palavra foi adotada em diversas línguas românicas, como o português, mantendo um significado muito próximo ao original latino.
Do ponto de vista da natureza, a audácia é um impulso que nasce dentro das pessoas, do endos, da alma, na consecução de atos ou ações difíceis ou perigosos. O audacioso, como vimos é ousado, intrépido, atrevido, petulante. É a qualidade de quem enfrenta situações difíceis, arrojadas.
Essas pessoas, são inconformadas, querem mudanças e se propõe a fazê-las. Examina os riscos e age com denodo. Os audaciosos, geralmente, superam seus temores e receios e subestimam as consequências de suas ações, mantendo-se adiante dos perigos que possam eventualmente atrapalhar seus planos de conquistas.
A audácia, também pode ser considerada a qualidade da pessoa que inova, que escolhe caminhos diferentes, que rompe com o habitual, que dispensa trajetos comuns, ou por demais conhecidos. Quer o novo e é ávido por romper o “status quo”. Se aventuram contra os conservadores para chegar a outro lugar. Em diferentes atividades profissionais, em circunstâncias que exigem mudanças, ante as rotinas estabelecidas, a audácia pode ser considerada uma ferramenta muito importante para promover mudanças. Há grandes vantagens, advindas de atitudes audaciosas, essas incentivam, pessoas ou instituições, às mudanças através de suas ideias inovadoras e revolucionárias.
Contrariamente ao comportamento dos audaciosos, encontramos os conservadores, conformados, tímidos, inseguros, temerosos, assustados. Esses, em geral não inovam, conservam suas rotinas, seus dotes e adotam uma vida rotineira sem alterações, por tempo indeterminado.
Dependendo, também, do contexto em que a palavra venha a ser utilizada, a audácia, pode assumir um caráter negativo, pejorativo, não resolutivo identificando o comportamento audacioso como um comportamento inconsequente, irresponsável e negligente, próprio de quem não avalia bem as consequências de suas atitudes. Esses audaciosos exagerados são indivíduos, que não têm senso crítico, sobre o que quer ou faz, avaliam mal suas atitudes e as consequências das mesmas, têm pouca autocrítica e adotam condutas intempestivas e desrespeitosas.
A audácia, quando é desmensurada, cega as pessoas, não as deixam perceber claramente as inconveniências de suas atitudes, mesmo que os perigos e as ameaças sejam enormes. Nessas condições os audaciosos podem ser também confundidos com pessoas arrogantes, presunçosas, além de apresentarem prejuízos cognitivos, afetivo e emocionais condições que por afetar sua autocrítica, não lhes permitem refletir sobre suas atitudes.
Do ponto de vista comportamental, os audaciosos são personalidades inquietas. Querem crescer na vida e na profissão. Os audaciosos lideram mais, têm mais iniciativas, e são considerados corajosos em seus grupos, além de gostarem de ter as atenções para si e se darem mal com as coisas estabelecidas.
Desfrutam de suas conquistas, mais em seguida querem mais novidades. Os perigos e dificuldades, ante as metas que traçam para alcança-las, não demovem suas iniciativas de avançarem, ir em frente, perseguir seus ideais e seus objetivos. Esses vivem suas conquistas intensamente, enquanto duram as novidades ou delas tirem proveitos, mas sempre querem mais. O audacioso, está insatisfeito, inclinado às mudanças em muitos sentidos (regras, normas, etc.), isto é, são pretenciosos.
Esses traços comportamentais da audácia se revelam já na adolescência e evoluem na fase adulta. Em princípio, os adolescentes são audaciosos, corajosos e destemidos. Se lançam em aventuras mesmo que as mesmas sejam perigosas e ameaçadoras. Esses querem sempre inovar, mudar, inventar, criar e contrariar o óbvio e os sinais de audácia estão presentes. O comportamento audacioso tende a se manifestar menos com o avançar da idade, de tal forma que na terceira idade as pessoas são mais conservadoras e menos audaciosas.
A psicopatologia da audácia envolve examinar como a ousadia ou audácia excessiva pode estar relacionada a certos traços ou condições psicológicas. É importante notar que a audácia por si só não é uma patologia; ela se torna relevante na psicopatologia quando aparece de forma extrema ou desadaptativa. Aqui estão alguns aspectos a considerar: Transtornos de Personalidade: Em condições como o transtorno de personalidade antissocial ou o transtorno de personalidade narcisista, a audácia pode se manifestar de forma extrema. Transtornos do Espectro da Impulsividade e outros transtornos emocionais.
Na psicologia, a audácia é avaliada dentro de um espectro mais amplo de comportamentos e traços de personalidade, e é importante diferenciar, como dissemos acima, entre audácia saudável e comportamentos potencialmente prejudiciais ou desadaptativos.