Autismo: Desconhecimento e desserviço
Em outubro do ano passado, no Programa The Noite, o apresentador Danilo Gentili entrevistou a autista e jornalista Amanda Ramalho. A qual falou da sua trajetória e do seu diagnóstico de autismo. Sendo várias vezes interrompida na sua fala pelo apresentador Gentili que comunicou ter sido “diagnosticado” com autismo há mais de um ano.
Ao fazer o comunicado do seu “diagnóstico” , o apresentador disse que teria sido informado que teria que “fazer exame” para saber em “qual espectro”, nível do autismo estaria. Desinformado e mal assessorado, pois não há exame para detectar o TEA(Transtorno do Espectro Autista). A avaliação é clínica. Pode ser com psicólogo(a) ou médico(a). Geralmente, a partir do relatório psicológico , o (a) médico(a) realiza testes para fechar o diagnóstico. Isso levando ano ou anos para fechar o diagnóstico. Assim, foi o meu diagnóstico e de muitos(as) outros(as) autistas adultos.
Não existe menos ou mais autista. Autista é autista. O diagnóstico mostra o nível de suporte a partir do prejuízo vivido e vivenciado. Somando-se a necessidade de intervenções terapêuticas. Dessa forma, o diagnóstico só faz sentido se a pessoa precisa de ajuda e não para quem não quer saber se é autista como bem disse o apresentador mencionado anteriormente, prestando tamanho desserviço devido ser uma pessoa pública. Como um autista adulto digo que já basta a sociedade capacitista e racista tentar invalidar o meu diagnóstico e destilar estigmas e preconceitos.
Fiquei pensando: se o apresentador Danilo Gentili não queria saber se era autista. Por que foi buscar o diagnóstico? Muito contraditório. Não é mesmo? Ao mesmo tempo, banalizando o diagnóstico que não é nenhum “ diploma para fazer piada”. Não sabendo que a Lei 12.764/12 determina que a pessoa com TEA é considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais. Em função do meu ativismo e militância neurodivergente, conheço e tenho conhecimento de vários adultos que não querem buscar o diagnóstico e de muitos que não querem comunicar o diagnóstico. Um direito pessoal e intransferível. Mas que não dá o direito de banalizar o diagnóstico.
“ O autismo virou modinha”; “ Você não tem cara de autista”; “ todo mundo é um pouco autista”; “ autismo e TDAH( Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) são invenções mentais para não demonstrar fraqueza”; sendo falas e expressões que , na verdade, são banalizações do diagnóstico que acabam repercutindo negativamente, constrangendo e prejudicando, principalmente, autistas adultos com transtornos comórbidos : ansiedade generalizada e depressão.
Diante de tantos desconhecimentos e desserviços que já se apresentaram, gostaria de falar da minha condição de autista adulto com diagnóstico tardio , nível 2 de suporte com comorbidades associadas. De vez em quando , percebo que ainda há os(as) fiscais do autismo que não são nada empáticos(as) e, sim, peçonhentos(as). Visto que, ficam fazendo julgamentos e questionamentos sobre os meus direitos enquanto pessoa com deficiência. Direitos não são privilégios. São adaptações necessárias visando intervenções, tratamento e uma melhor qualidade de vida.
Leitor e leitora? Mas tanto falei de diagnóstico que o mesmo pareceu ser ofertado facilmente. No entanto, não é. Mostrando-se um tanto difícil devido à escassez de oferta de profissionais qualificados, sobretudo, na rede pública. Apesar de alguns avanços, entendo que são necessárias políticas públicas que garantam o acesso ao diagnóstico e o atendimento especializado para todos e todas que precisam.
Sei que os desconhecimentos e os desserviços sobre o autismo continuarão. Contudo, a luta seguirá firme no sentido de levar a conscientização e promover as mais diversas políticas públicas de inclusão. “É hora da inclusão”. Por uma sociedade antirracista e anticapacitista!
Por David Morais